O mundo visto pela perspectiva da mutabilidade
Dentre as diversas experiências pelas quais todos nós passamos no mundo, há uma em particular que se encontra sob o campo de atenção do sujeito quando seu mapa astrológico apresenta a Casa 8 em destaque, ocupada por qualquer um dos sete planetas pessoais.
Neste caso, ele presta atenção na tensão existente – uma tensão que, ao chegar ao seu limite, pode por tudo a perder. Por isso mesmo, procura sempre entender esse momento limite a partir do qual nada permanece como estava, bem como as pessoas reagem quando se encontram sob aperto e sob forte pressão, nutrindo assim um interesse profundo por todo e qualquer tipo de força que acione uma grande mudança, uma real transformação.
Em O Homem Que Sabia Demais, é confidenciado um plano de assassinato a um homem em uma situação bastante extrema: antes de morrer esfaqueado, um espião lhe sussurra ao pé do seu ouvido que “um homem, um chefe de estado, vai ser morto, assassinado, em Londres, em breve, muito em breve”. Como ele passa a saber demais e pode atrapalhar o plano, raptam seu filho, para que ele não diga nada. A partir de então esse homem, mais a sua esposa, tentam resgatar seu filho, se envolvendo e se aproximando cada vez mais daqueles que irão executar o assassinato.
O assassinato em questão é o de um Primeiro Ministro que visita Londres e que irá a um concerto musical em um teatro. E ele deve ser assassinado em um momento muito exato e preciso – quando soar a única batida de címbalos da música que será tocada no teatro, como ficamos sabendo pela cena em que o matador de aluguel é instruído por um homem que lhe diz: “vamos ouvir o momento exato em que você deve disparar. Ouça com cuidado. Ouça mais uma vez. Ouça a batida dos címbalos. Como se vê, em tal momento, seu tiro nunca vai ser ouvido. Nem mesmo os ouvintes serão incomodados”. Tendo dito isso, ainda acrescenta: “espero não te chatear ao te dizer que você só tem tempo para um tiro. Se precisar de outro, o risco é seu”. Ao que o matador de aluguel responde: “eu não corro riscos”.
O filme todo caminha e procura levar o espectador a assistir a essa cena de assassinato, como já anunciado na cena abertura, quando um músico bate os címbalos e uma frase diz: “uma única batida de címbalos e como ela abalou a vida de uma família americana”. A cena em questão – para a qual Hitchcock dirige a nossa atenção – constitui, portanto, o coração do filme. E nesta cena, justamente nesta cena, o assassinato não é mostrado com a mesma velocidade com que ele transcorre na realidade, isto é, rapidamente, em um segundo. Ela demora dez minutos e mostra com uma riqueza de detalhes – bem devagar – todos os instantes de que se compõe o ato de assassinar, como por exemplo o cano de revólver que aparece por detrás da cortina mirando a vítima e, sobretudo, as notas musicais impressas em uma partitura musical se sucedendo umas às outras, se aproximando cada vez mais da única nota que o músico dos címbalos deve tocar. Ao proceder assim – dilatando o próprio tempo com que se realiza um assassinato – Hitchcock não tão somente imprime um suspense e uma tensão maior ao filme, como também revela em que consiste precisamente o ato de assassinar: um momento limite, momento que exige uma resposta rápida e precisa – e fora do qual só há riscos.
Mas no exato momento em que o címbalo está prestes a tocar e que o revólver aponta definitivamente para a vítima, a mãe da criança raptada grita de propósito no meio do teatro, visando interferir na concentração do atirador que, de fato, acaba por errar o alvo. Como ela mesma confessa depois, “eu vi o revólver. Ele estava apontando para o Primeiro Ministro. Ele ia matá-lo. E eu percebi que tinha que gritar”. Ao fazer tal confissão, entendemos que ela tinha plena consciência que devia se antecipar ao momento visado pelo atirador e gerar uma mudança súbita e radical na ordem dos fatos, gritando. O que só pode ocorrer, devo lembrar, porque ela é o personagem que desde o início do filme aparece caracterizado como aquele que fareja o risco e o perigo e que, tal como Hitchcock, sabe de que o mundo é composto: ele é composto de tensões, de situações limites que exigem de nós uma resposta rápida e precisa.
E quando calculamos o mapa de Alfred Hitchcock, vemos que um planeta se posiciona justamente na Casa 8, destacando-a. Quando o mapa astrológico de um indivíduo possui tal configuração, ele apresenta uma característica cognitiva muito particular: ele presta atenção nas mudanças radicais que acontecem. Por isso mesmo, tem um interesse profundo por todo e qualquer tipo de força que aciona uma transformação, de modo que procura sempre entender aquele momento limite a partir do qual nada permanece como estava e, sobretudo, como as pessoas reagem quando se encontram sob aperto e sob forte pressão. É, em suma, o indivíduo para quem o mundo é um campo minado que deve ser percorrido com muito cuidado. Afinal, se se há algo no mundo que lhe chama a atenção, este algo é a tensão – a tensão que pode por tudo a perder ou levar a uma real transformação.
Por isso, se você, ao longo de toda a sua vida, presta atenção no risco e no perigo que uma situação oferece ou se pergunta como deverá proceder para causar uma mudança radical ou evitá-la, é por que você, tal como Alfred Hitchcock, tem algum planeta na Casa 8 do seu mapa astrológico.