O Significado da Casa 8

O mundo visto pela perspectiva da mutabilidade

Edil Carvalho

Postado 5 meses ago

Introdução

Dentre as diversas experiências pelas quais todos nós passamos no mundo, há uma em particular que se encontra sob o campo de atenção do sujeito quando seu mapa astrológico apresenta a Casa 8 em destaque, ocupada por qualquer um dos sete planetas pessoais. 

Neste caso, ele presta atenção na tensão existente – uma tensão que, ao chegar ao seu limite, pode por tudo a perder. Por isso mesmo, procura sempre entender esse momento limite a partir do qual nada permanece como estava, bem como as pessoas reagem quando se encontram sob aperto e sob forte pressão, nutrindo assim um interesse profundo por todo e qualquer tipo de força que acione uma grande mudança, uma real transformação. 

Este sentido, em grau elevado, leva o sujeito a ter uma visão muito clara do perigo iminente, da margem de risco que uma situação lhe oferece e de como deverá responder a esse perigo para se safar, desenvolvendo assim uma capacidade enorme para lidar com a adversidade e com situações de emergência que lhe exigem uma resposta rápida e precisa, deixando boa parte das vezes para resolver as coisas na “hora H”, na hora em que a situação se precipitar, sendo o indivíduo que se conhece à medida que passa por grandes crises e adversidades, através das quais ele já não é mais o mesmo, pois se transforma em uma outra pessoa. 
Já em um grau muito baixo, este sentido leva o sujeito a ter uma visão confusa dessas forças latentes que se encontram presentes numa situação e que podem a qualquer momento eclodir, causando uma reviravolta súbita e radical, de modo que acaba se metendo em situações arriscadas que poderia evitar, bem como sendo pego de “calça curta”. 
Apresenta também uma grande dificuldade para avaliar o potencial e transformação de uma coisa ou de uma situação, isto é, do quanto elas são passíveis ou não de modificação, de modo que nunca sabe como acabar com uma situação que prossegue e dar-lhe um fim definitivo, bem como recuperar algo que foi dado como acabado e perdido, revertendo assim seu quadro, já que, em suma, não sabe lidar com a alteração, com a mudança. 
Mas seja em que caso for, esse é o sujeito para quem o mundo é um campo minado onde se deve pisar com muito cuidado. É por isso que o risco, o perigo, o aperto, a pressão, as situações de emergência, o medo, a crise, as mudanças, o momento-limite, as transformações, as reações, os processos, a reversibilidade e a irreversibilidade, a mutabilidade e a imutabilidade lhe são tão significativos. Afinal, se há algo no mundo que lhe chama a atenção e que é capaz de mostrar todo o seu sentido, este algo é a potência, essa força latente e dinâmica que se encontra presente sob a superfície das coisas e que pode a qualquer momento eclodir, causando uma mudança. 

A casa 8 no Cinema: "O Homem que sabia demais", de Alfred Hitchcock

Em O Homem Que Sabia Demais, é confidenciado um plano  de assassinato a um homem em uma situação bastante extrema: antes de morrer esfaqueado, um espião lhe sussurra ao  pé do seu ouvido que “um homem, um chefe de estado, vai ser  morto, assassinado, em Londres, em breve, muito em breve”.  Como ele passa a saber demais e pode atrapalhar o plano, raptam seu filho, para que ele não diga nada. A partir de então  esse homem, mais a sua esposa, tentam resgatar seu filho, se  envolvendo e se aproximando cada vez mais daqueles que irão  executar o assassinato. 

O assassinato em questão é o de um Primeiro Ministro que  visita Londres e que irá a um concerto musical em um teatro. E  ele deve ser assassinado em um momento muito exato e preciso – quando soar a única batida de címbalos da música que será  tocada no teatro, como ficamos sabendo pela cena em que o  matador de aluguel é instruído por um homem que lhe diz: “vamos ouvir o momento exato em que você deve disparar. Ouça  com cuidado. Ouça mais uma vez. Ouça a batida dos címbalos.  Como se vê, em tal momento, seu tiro nunca vai ser ouvido.  Nem mesmo os ouvintes serão incomodados”. Tendo dito isso,  ainda acrescenta: “espero não te chatear ao te dizer que você  só tem tempo para um tiro. Se precisar de outro, o risco é seu”.  Ao que o matador de aluguel responde: “eu não corro riscos”.

O filme todo caminha e procura levar o espectador a assistir  a essa cena de assassinato, como já anunciado na cena abertura, quando um músico bate os címbalos e uma frase diz: “uma  única batida de címbalos e como ela abalou a vida de uma  família americana”. A cena em questão – para a qual Hitchcock  dirige a nossa atenção – constitui, portanto, o coração do filme.  E nesta cena, justamente nesta cena, o assassinato não é  mostrado com a mesma velocidade com que ele transcorre na  realidade, isto é, rapidamente, em um segundo. Ela demora  dez minutos e mostra com uma riqueza de detalhes – bem  devagar – todos os instantes de que se compõe o ato de assassinar, como por exemplo o cano de revólver que aparece por  detrás da cortina mirando a vítima e, sobretudo, as notas musicais impressas em uma partitura musical se sucedendo umas  às outras, se aproximando cada vez mais da única nota que o  músico dos címbalos deve tocar. Ao proceder assim – dilatando  o próprio tempo com que se realiza um assassinato – Hitchcock  não tão somente imprime um suspense e uma tensão maior ao  filme, como também revela em que consiste precisamente o  ato de assassinar: um momento limite, momento que exige  uma resposta rápida e precisa – e fora do qual só há riscos.

Mas no exato momento em que o címbalo está prestes a  tocar e que o revólver aponta definitivamente para a vítima,  a mãe da criança raptada grita de propósito no meio do teatro, visando interferir na concentração do atirador que, de fato,  acaba por errar o alvo. Como ela mesma confessa depois, “eu  vi o revólver. Ele estava apontando para o Primeiro Ministro.  Ele ia matá-lo. E eu percebi que tinha que gritar”. Ao fazer tal  confissão, entendemos que ela tinha plena consciência que devia se antecipar ao momento visado pelo atirador e gerar uma  mudança súbita e radical na ordem dos fatos, gritando. O que  só pode ocorrer, devo lembrar, porque ela é o personagem que  desde o início do filme aparece caracterizado como aquele que  fareja o risco e o perigo e que, tal como Hitchcock, sabe de que  o mundo é composto: ele é composto de tensões, de situações  limites que exigem de nós uma resposta rápida e precisa. 

E quando calculamos  o mapa de Alfred Hitchcock, vemos que um planeta se posiciona justamente na Casa 8, destacando-a.  Quando o mapa astrológico de um indivíduo possui tal configuração, ele apresenta uma característica cognitiva muito particular: ele presta atenção nas mudanças radicais que  acontecem. Por isso mesmo, tem um interesse profundo por  todo e qualquer tipo de força que aciona uma transformação,  de modo que procura sempre entender aquele momento limite a partir do qual nada permanece como estava e, sobretudo,  como as pessoas reagem quando se encontram sob aperto e  sob forte pressão. É, em suma, o indivíduo para quem o mundo  é um campo minado que deve ser percorrido com muito cuidado. Afinal, se se há algo no mundo que lhe chama a atenção,  este algo é a tensão – a tensão que pode por tudo a perder ou  levar a uma real transformação. 

Por isso, se você, ao longo de toda a sua vida, presta atenção  no risco e no perigo que uma situação oferece ou se pergunta  como deverá proceder para causar uma mudança radical ou  evitá-la, é por que você, tal como Alfred Hitchcock, tem algum  planeta na Casa 8 do seu mapa astrológico.